O pote de dinheiro

Foi no estado da Bahia, nos anos 90, que meu pai contava histórias que fizeram pensar as atitudes que eu poderia ter ao longo da minha vida. Quando somos pequenos criamos crenças estranhas, talvez idéias bobas (ou não).

Meu pai chegava do trabalho cansado, sentava no quintal da minha casa, com o sol se escondendo e os pássaros cantando. Eu e meus irmãos sentávamos ao redor dele, todos muito ansiosos para a próxima história. Antes de começar, ele olhava os nossos cadernos e ajudava nas lições de casa. Depois tínhamos que fazer uma oração. No final, como uma recompensa, ele contava uma história que ele ou meus avós vivenciaram.

Foi pensando nesses momentos inesquecíveis vividos na minha infância, que escolhi essa história.

O POTE DE DINHEIRO

Meu pai ainda muito jovem, com seus 17 anos, morava na roça e costumava jantar às 18h. Depois do jantar gostava de deitar na rede. Numa noite chuvosa e fria, com muita ventania, ele fizera como de costume: ficou muito destraído, com o pensamento longe. De repente, viu uma imagem de um homem. Não sabia ao certo que imagem seria aquela ou até se ele estaria tendo uma visão.

Nesse sonho ou visão, até hoje ele não sabe explicar, um senhor com seus 90 anos , de barba branca até o peito, olhos azuis, coluna encurvada, andava com o auxílio de uma bengala. Sua voz era rouca e calma. Dizia para ele que iria lhe dar um pote de barro; que dentro teria muito dinheiro, mas que para ir em busca desse pote, teria que seguir estas instruções:

- O pote de dinheiro está debaixo da fornalha de requeijão. Só pode ser tirado ao meio dia, nem um minuto a mais, nem a menos. Não pode falar pra ninquém. É um segredo. ´

A noite custava a passar e ele, planejando como iria até a fornalha sem a minha avó perceber, pois era lá que ela fazia os requeijões para ser vendido na feira.

Afora isso, meio-dia era o horário que meu avô almoçava. Ele teria que abrir mão do almoço.

No dia seguinde falou para minha vó que esqueceu de ver os gados no pasto e que almoçaria mais tarde, mas o que ele foi ver na verdade era se conseguiria achar aquele pote de dinheiro.

Chegando exatamente no lugar que o senhor descreveu, ajoelhou-se no chão e começou a cavar a terra, tirando tijolos. Com o suor descendo, os braços já cansados, passou do meio-dia e nada do pote. Voltou para casa.

À noite, o senhor tornou a falar com ele, que o pote de dinheiro era dele, e só ele conseguiria tirar o dinheiro.

O dia amanheceu, muito ansioso, não conseguiu nem ir trabalhar com meu avô, com medo de não conseguir chegar antes do meio-dia. Novamente disse para a minha avó que esqueceu de fazer algo e almoçaria mais tarde.

Chegando no lugar, ajoelhou-se no chão, começou a cavar a terra. Dessa vez algo diferente aconteceu: em vez de tijolos, começaram a sair vários tipos de bichos ( galinha, cabra, urubu entre outros).

Mesmo com muito medo, ele estaava disposto a achar esse dinheiro. Cavou mais de um metro. Suava muito. As mãos já calejadas, trêmulas.

Quando passou de meio-dia, os bichos que ele viu no começo sumiram do nada. A terra estava caindo no buraco, fechando rapidamente. Nesse momento, ele desistiu de continuar cavando em busca do dinheiro, pois ele não via nem mais o burraco que ele cavou, percebendo que aquilo que estava acontecendo era sobrenatural.

Aquele velhinho de fisionomia bonita o atormentou por algum tempo, insistindo que aquele dinheiro era dele, só ele poderia encontrá-lo.

Com o passar do tempo, ele deu graças a Deus por nunca ter encontrado o dinheiro, deixando claro que as coisas fáceis não trazem felicidade e que a maior riqueza que ele conseguiu estava ao lado dele.

Comentários

Postagens mais visitadas