" A difícil viagem de Portugal ao Brasil."

Minha Avó, Dona Adelaide, era uma senhora séria. Estava sempre de preto, de luto pela morte de meu avô. Em seus momentos de descanso, sentava no jardim de casa e bordava, enquanto contava a mesma história, todas as vezes, sobre "A difícil viagem de Portugal ao Brasil."

Não importava quantas vezes havia contado: ela sempre se emocionava e, eu sempre gostava de ouvir.
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"Nos anos 50, recebi uma "carta de chamada" em Portugal. Era de meu irmão Ribeiro, que estava no Brasil. Ele estava morando lá há alguns anos. Estava bem de vida, havia firmado residência e teve sucesso nos negócios.

Esta carta foi muito benvinda. Reunimos nossas economias e resolvemos partir. Só que não tínhamos condições de pagar a viagem para todos. Por isso ficaram para trás os meus sogros e teu Tio Manuel. Só pude levar comigo o seu avô e os outros tios (Salomão, Maria e Américo).

Fomos para a Ilha da Madeira, onde pegamos uma "barca" que nos levou até o Porto de Lisboa. Chegando lá embarcamos no navio.

Como éramos pobres, fomos para a "3ª Classe", onde nos restou o porão. Ainda trabalhávamos à bordo para pagarmos as nossas despesas.

A viagem era longa e difícil. O "balançar" do navio era muito ruim, sem contar as condições de higiene que eram péssimas. As pessoas adoeciam e eram deixadas nas encostas e, as que morriam eram lançadas ao mar. Triste lembrança: as pessoas morriam de doenças "simples" como sarampo, catapora, diarréia etc.

Imagina?! Eu e as crianças vendo pessoas ficarem sozinhas, desoladas nas encostas!
Pior! Pessoas mortas sendo atiradas do navio !

Não se via nada a não ser céu e mar...

Durante o dia, nos apavorávamos ao ver os rabos das baleias batendo na água. Os pulos daqueles animais enormes, eram de assustar a qualquer um!

E as noites, então?! Uma escuridão imensa, um silêncio apavorante, que só era "quebrado" pelo "cantar" das baleias, gemidos altos, solitários, angustiantes e apavorantes!

Após muitos dias e noites de sofrimento e esperança, conseguimos desembarcar no Porto de Santos.
A princípio, aliviados, por chegarmos "inteiros" em terra firme, assustados pela viagem e por não conhecer os costumes e os hábitos tão diferentes do Brasil.
Mas, finalmente, recomeçamos a vida e aqui estamos. Conseguimos trabalhar e mandar uma carta de chamada para trazer seu "tio Mané".
Vencemos na vida e, hoje, damos valor a tudo o que conseguimos e lutamos pra conquistar..."

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