Histórias da Nona Lena


Quem Contava: Minha Avó e meu Pai.

Em qual ambiente: Na cozinha, na beira do fogão, em torno da mesa ou em reunião familiares.

Tema das histórias contadas pela Vó: Histórias da família, receitas de sonho, massas, comidas típicas da fazenda, anedotas, relatos de quando ela era parteira, piadas, relatos sobre a dificuldade e felicidade de criar os 09 filhos.

Temas das histórias contadas pelo Pai: Histórias da família, traquinagens de quando era criança, relacionamento com os pais e irmãos, batalha pela vida profissional, relatos do tempo de namoro com minha mãe, escolha dos nomes das minhas irmãs e o meu, piadas, contos, anedotas entre outros dos mais variados.

Características em comum: Tanto meu pai, como minha avó sempre contavam historias reais. Com muito entusiasmo, carinho, risos, alegria, suas fisionomias eram sempre satisfatórias com certo suspense.

Eu me sentia revivendo a história quando eles estavam contando. Dava até uma euforia, e até hoje é assim.

Na minha família é comum acontecer rodas de conversa. Em qualquer momento, estamos sempre conversando. Acho isso extremamente fundamental e importante.

Histórias da nona Lena

Sentados ao redor da mesa, ou ao redor do fogão, aquela italianinha de cabelos brancos e bochechas bem vermelhinhas, cozendo uma panelada de frango (que fora morto no mesmo dia) e polenta, ela contava o seguinte fato.

Lá em Itapecerica da Serra, quando ainda se fazia neblina na madrugada, ha cerca de uns 40 anos atrás, morávamos em um sítio. Naquela época o banheiro ainda era do lado de fora de casa, e a única iluminação existente, além do lampião, era a luz da lua.

Meu pai e seus oito irmãos, assim como uma família típica italiana, eram muito unidos e ainda moravam com a vovó e o vovô.

Dentre eles, minha tia Hilda, que era muito medrosa. Naquela época, falava-se muito em lobisomem, mula sem cabeça e até saci pererê.

Meu avô, como bom domador de cavalos, sempre ralhava com o tal do saci, porque às vezes os cavalos amanheciam com tranças e nós em seus rabos.

Então, essa minha tia, tinha muito medo de ir ao banheiro à noite. Vai que ela dava de cara com o saci ou uma alma penada?!

Um dia, era noite de lua cheia, o terreiro todo iluminado pela luz do luar, um frio que doía na espinha, corujas a espreita... O banheiro ficava a uns 20 passos da casa. Minha tia, apertada para ir ao banheiro, cria coragem para ir até a “casinha”, quando de longe ela avista uma senhora de cabeça branca, acenando com a cabeça, com se estivesse fazendo reverencia a alguém.

Quando ela avistou essa cena, no breu da madrugada, em um lugar que o vizinho mais próximo ficava a horas de lá, quase se pelou de medo, correu para dentro de casa, e agüentou firme até o dia seguinte.

Pela manhã, contou a minha avó (que era uma mulher muito forte e valente) o que havia acontecido, e ela disse que isso era fruto da sua imaginação.

No dia seguinte, quando foi anoitecendo, ela já começou a pensar :
- Ai meu Deus, e se me der vontade de ir ao banheiro, o que vou fazer? Já sou moça, não posso pedir para irem comigo.
Foi dito e feito. Chegou a noite e ela, de novo, com vontade ir ao banheiro. Criou coragem e falou
para si mesma:
- De hoje não passa.

Quando chegou ao batente da porta, o vento assoprando no seu ouvido, neblina intensa, ela avista novamente a tal da velha acenando com a cabeça...Sobe um arrepiou daqueles que gela a espinha e ela torna a correr de volta pra cama.

No dia seguinte, já foi toda chorosa, conta para a vovó... E isso aconteceu por uma semana seguida, a tal da assombração lá, acenando pra ela todas as noites.

Até que chegou um dia e minha avó disse:
- De hoje não passa. Vou ficar lá esperando essa véia aparecer. E ser for mentira sua, a cinta vai estralar.

Quando anoiteceu, estava ela lá a esperar com uma espingarda na mão. Quando a lua atingiu o seu ápice e a neblina se fez presente, a tal velha de cabeça branca apareceu e começou a acenar.

Então minha avó foi até ela perguntar o que ela fazia todas as noites ali, e foi andando vagarosamente, com o coração disparado, com o vento assobiando em seus ouvidos. Quando chegou perto a velha sumiu....
Para sua surpresa, ela encontra uma folha de bananeira no lugar da tal assombração que, por causa da luz da lua, dava a impressão de serem os cabelos brancos da velha assombração; e por causa do vento, fazia com que a folha balançasse, dando a impressão de ser uma velinha corcunda de cabelos brancos acenando.

Essa história é lembrada até hoje nas rodas de conversa. Minha avó já se foi e hoje minha tia Hilda, que já está com a aparência igual a da vovó, conta também e da mesma forma todos esses acontecidos, com muitos risos e lagrimas nos olhos.

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