O Zezinho



As histórias que minha mãe Dulceley (Léia) conta são histórias que ela ouvia na infância, contadas por Moacir, um empregado da fazenda do meu avô, que tinha em média 30 anos, em Engenheiro Caldas, Minas Gerais. Durante as noites de alguns dias da semana, ele reunia as crianças da fazenda e contava histórias na beira do fogão de lenha, comendo milho assado e tomando café.
Nessa época, minha mãe tinha oito anos. Hoje ela tem 51 anos e lembra detalhadamente das histórias que eram contadas a ela.
Quando Moacir estava cansando de contar e queria parar, a criançada insistia. Então ele dizia:
- Eu vou contar só mais uma história. A do pinto e o pato. Entrou no bumbum do pinto e saiu no bumbum do pato... Estou muito cansado... amanhã eu conto mais quatro.

Desde que eu era criança, até hoje, minha mãe conta essas histórias que ela ouvia. Na minha casa, quando chegava a noite, como a gente não tinha televisão, a gente deitava - eu, os meus dois irmãos - e minha mãe contava antes da gente dormir.
Eu lembro dessas histórias desde os meus cinco anos e até hoje quando a gente começa a conversar ela conta algumas. Algumas são traquinagens da infância dela.

Uma dessas histórias e a que eu mais gosto é a do Zezinho.Vou compartilhar com vocês.
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Zezinho era um menino muito "despercebido", morava com seu padrinho e a avó do seu padrinho no interior.
Certo dia, eles foram convidados para uma festa e o padrinho de Zézinho, preocupado em passar vergonha, disse para ele:

- Olha , Zezinho, não vá me fazer vexame, então você vai comer até eu te dá um toque. Quando eu te tocar, você pára. Entendeu?

- Sim, padrinho, entendi – disse Zezinho.

Chegando na festa, todos se divertiam e havia muita comida. Então, quando Zezinho começou a se servir, passou um cachorro e encostou nele. Imediatamente, ele deixou a comida e não comeu durante toda festa, imaginando ter sido um sinal de seu padrinho para que parasse de comer.

No silêncio da noite, todos dormiam, quando Zezinho chamou:

- Padrinho! Não consigo dormir, estou com fome!

O padrinho logo acordou e perguntou o que estava acontecendo.

- Ah, padrinho, durante a festa um cachorro encostou-se a mim e não comi nada. O senhor tinha dito que quando alguma coisa tocasse em mim era pra eu parar de comer.

Seu padrinho com muita paciência, explicou:
- Zezinho, não era qualquer toque. Eu iria te avisar. Você não tem jeito mesmo... Oh, falta de atenção!
Olha vá até a cozinha, tem uma panela de sopa. Come um pouco da sopa. Cuidado para não acordar minha avó.

Zezinho levantou, foi até a cozinha e se serviu da sopa.
Enquanto isso, a velha que dormia num canto próximo ao fogão, não passava muito bem, porque, durante a festa ao contrário do Zezinho comera debalde. A velha soltava uns "puns" e Zezinho dizia:

- Não padrinho, não precisa soprar... a sopa já está fria...

E comeu a sopa, sujando toda sua mão; pegou uma jarra com água para lavá-las e enfiou as duas mãos ao mesmo tempo. Acabou ficando com as mãos presas. E novamente chamou seu padrinho...

- Padrinho, padrinho!

- O que foi desta vez, Zezinho?

- Ah! Padrinho, eu fui lavar a mão e elas ficaram presas no jarro, não consigo tirar.

- Meu filho, como pode tanta tolice. Olha, lá fora tem um toco de árvore. Vá e quebre o jarro neste toco e venha dormir. Não me incomode mais!

Neste meio tempo, deu uma dor de barriga revoltada na velha. Ela correu para o mato e Zezinho saiu logo atrás... Estava tudo escuro. Zezinho viu um vulto. Imaginando que fosse o toco de árvore, bateu com toda a força na cabeça da velhinha que estava agachada no mato. Então, a coitada da velha deu um berro e desmaiou...
E o padrinho exclamou dentro de casa:

- Zezinho, você está louco? Quer matar minha avozinha?! Você não tem jeito. Presta atenção menino!
E Zezinho como sempre se desculpava...

- Desculpa padrinho! Pensei que fosse o toco de árvore.
Certo dia, o padrinho do Zezinho começou a pensar que já estava na hora de Zezinho cortejar alguma moça para se casar. Então, resolveu conversar com o rapaz.

- Meu filho, acho que já está na hora de você casar.
Na fazenda ao lado tem uma moça filha do compadre. Vá a casa dela. Eu quero que você converse com ela.

- Como padrinho? Sou muito bobo ela não vai gostar de mim.

E o padrinho o aconselhou:

-Olha as moças gostam de rapazes engraçados, então, sorria bastante quando a encontrar.

-Está bem ,padrinho - afirmou Zezinho, certo de ter entendido o que seu padrinho dissera.

Chegando à casa do compadre, Zezinho foi falar com a moça que estava aos prantos. O rapaz, seguindo o conselho de seu padrinho, se pôs a rir desesperadamente.

A moça não entendendo lhe disse:

-Você é louco! Meu pai acabou de morrer e você fica todo feliz com isso. Some daqui agora!

Zezinho, decepcionado, voltou para casa e contou ao seu padrinho o que acontecera. Seu padrinho com toda a paciência do mundo lhe explicou:

- Não meu filho, você deveria ter chorado com ela. Coitada da moça estava triste...

Na outra semana, ele foi novamente visitar a moça certo que, dessa vez, as coisas seriam melhores. Ao chegar, a encontrou mais alegre, conformada com a morte e regando suas flores. Porém Zezinho,
seguindo o conselho do padrinho se debulhou em lágrimas. A moça irritadíssima disse:

- Semana passada eu estava chorando pela morte do meu pai e você ria incontrolavelmente, e hoje que estou feliz você está chorando? Saia da minha casa seu estranho!

Zezinho voltou para a casa, triste e contou para seu padrinho que a moça estava regando as flores, ele começou a chorar e ela se irritou.

- Ah, Zezinho, meu filho, não é assim! Se ela estava regando as flores você deveria ter dito “tomara que vingue. Tomara que vingue!”

Após outra semana, chegando à casa da moça, ela estava com catapora. E Zezinho disse para moça todo feliz:
- Tomara que vingue! Tomara que vingue!

A moça, pasma, o enchocalhou dali.
- Como pode, eu estou doente com catapora e você diz para vingar. Não quero te ver mais. Some da minha casa!

Ao chegar em casa e contar para o seu padrinho. O padrinho lhe disse:

- Zezinho, não é assim. Se ela estava com catapora, você tinha que dizer "tomara que seque." Não foi à toa que ela te expulsou...

Na outra semana Zezinho, empolgado, voltou à casa da moça que não estava mais com catapora. Ele a encontrou regando as flores do seu jardim e cantarolando.
Convencido de falar a coisa certa, disse:

-Tomara que seque. Tomara que seque!

Então, a moça, furiosa e cansada de ouvir tanta baboseira de Zezinho, afirmou:

- Some daqui e não volte mais... Eu estava com catapora e você desejou que vingasse. Agora você quer que as minhas flores, lindas, sequem.

Zezinho, voltou para casa, desconsolado e esbravejando:
-Padrinho, não volto mais lá... Tudo que eu digo está errado. Ela sempre me manda embora.
E seu padrinho, com toda a paciência (que só ele mesmo tinha) lhe orientou:
- Dê um tempo pra moça. Da próxima eu vou com você, meu filho. Você precisa prestar mais atenção, Zezinho. Oh, menino bobo!
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