Uma certa cascavel vingativa

Das muitas coisas do meu tempo de criança, guardo vivo na lembrança o aconchego do meu lar, onde quase sempre no mês de junho a família armava uma fogueira e se punha em volta a conversar. Degustávamos milho, pinhão e, é claro, pipoca, quentão e muitas histórias narradas pelos membros de minha família típica do interior.
Uma das história que eu ouvi, a que me deixou encucado foi a que meu avó materno contou. Trata-se de um senhor, chamado Zé Borges, que morava num sítio na cidade de Palmeiras, no estado da Bahia, próximo a sua casa.
De vida simples, como todo caboclo do mato, seu Zé Borges vivia da roça. Tinha lá plantado seus pés de feijão, milho, mandioca, cana-de açúcar etc.
Certo dia, quando capinava o mato que já estava grande em certa parte de seu sítio, se deparou com uma cobra do tipo cascável, enorme. Quando então....ela balançou o seu chocalho e armou o bote para atacá-lo.
Entretanto, seu Zé Borges, homem muito experiente, apesar dos seus sessenta e cinco anos, era bem lúcido e viril, foi mai rápido e golpeou-a com a enxada, matando-a.
De tão grande que era a cobra, seu Zé Borges resolveu levá-la para casa onde morava com sua esposa e seus três filhos, pois queria que vissem sua valentia.
Pegou-a pelo garganta e foi arrastando-a pelo sítio afora até chegar na sua casinha simples, coberta com telhas de barro e toda de madeira.
Deixou-a do lado de fora e foi chamar a esposa e seus filhos para vê-la. Todo envaidecido, começou a contar como se sucedera tamanha façanha para um velho de sua idade. A mulher e os filhos ficaram orgulhosos.
Como já anoitecia seu Zé Borges resolveu que iria levar a cobra somente quando amanhecesse o dia. Resolveu então deixá-la próximo do poço de água que tinha no quintal da casa. Esse era o poço que a família usava para retirar água para o consumo.
Passadas algumas horas, logo após o jantar, sua esposa foi lavar os pratos. Como precisava encher a bacia com água, precisou pegar água em um tambor que eles deixavam próximo do poço, pois era muito trabalhoso toda vez que precisavam retirar água, ter que puxar, utilizando um coisa chamada "sari" amarrada com cordas num balde. Por isso, sempre deixavam o tambor cheio e, à medida que esvaziava. eles tornavam a enchê-lo.
Pois bem! Sua esposa então abriu a porta, caminhou até o tambor e, de repente...uma outra cobra cascável atacou-a sem piedade e desferiu-lhe várias picadas. Só parou, depois de virem acúdi-la por terem ouvido seus gritos.
Seu Zé Borges e um de seus filhos correu, mas a cobra, rasteirosamente, fugiu.
Sua esposa agonizou de dor até vir a falecer.
Meu avó conta que tinha sido a cobra macho que resolveu vingar a morte da outra cobra e que ela foi seguindo o rastro deixado, quando seu Zé Borges a levou para mostrar para a esposa e seus tres filhos.
É por isso que dizem que a cobra é vingativa!....

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